Uma instalação interativa com serigrafias de grande formato expostas em espaço público. As pessoas (diversos públicos) participavam por meio de textos e questionários em quatro línguas.
Autores tão diferentes quanto Theodor Adorno, Shoshana Felman e Eric Hobsbawn compreendem o século XX como a “Era das Catástrofes”.
Muitos ensaios contemporâneos sobre o assunto vão na direção de extrair da experiência e dos estudos sobre o Holocausto ou Shoá uma perspectiva para analisar o mundo contemporâneo, estrutural e cotidianamente marcado pela violência.
E esses trabalhos pautam-se pela convicção de que a Shoá transformou o modo de ação e de reflexão dos precários homens do século XX. Isso porque localizam neste evento o lugar da falência dos ideais iluministas e da desconfiança perante sistemas explicativos totalizadores.
Esses pensadores retomam a convicção do poeta Paul Celan de que ninguém testemunha a testemunha, reafirmando o princípio de que ninguém pode falar em seu nome. Desse ponto de vista, formulam-se as questões que atravessam a contemporaneidade: é possível representar o mal absoluto?
Como representar a barbárie sem permitir a fruição estética? Como aproximar-se do trauma, individual e/ou coletivo, que está na origem do testemunho? Como descrever a angústia do testemunho que afirma com igual intensidade tanto a impossibilidade de narrar sua vivência como a necessidade de fazê-lo?
Passadas três gerações do extermínio em massa que foi a Segunda Guerra Mundial, ficam as perguntas:
É possível lembrar do ocorrido, quando os testemunhos do ocorrido estão quase todos mortos?
A segunda e terceira gerações pós Shoá podem/devem lembrar de um acontecimento que não experimentaram?
É possível lembrá-lo de outras formas?
É preciso lembrar ou esquecer?
Nair Kremer